Um pouco mais de esclarecimento.

Me autorizei a falar sobre DESEJO em um viés psicanalítico. Porque?
PRIMEIRO: Acho que escrever sobre algo tão complexo em uma rede onde todas as pessoas DO MUNDO têm acesso, é correr alguns riscos (me responsabilizo por isso). Se você domina o assunto que deseja escrever e tenta repassá-lo, existem algumas possibilidades de interpretação: ou a pessoa lê e consegue "pegar o espírito" da coisa, ou ela lê, não entende nada e sai denegrindo a psicanálise (que é o que mais se vê por aí), e você também acaba queimando o seu filme, situação que pode acontecer caso as informações também sejam repassadas de forma confusa, equivocada ou banalizada.
NÃO SOU PSICANALISTA, ainda não me autorizei a ocupar este lugar, mas me autorizo a falar sobre desejo, porque ATÉ AQUI eu sei do que estou falando e porque estou falando.
SEGUNDO: Porque resolvi falar sobre este tema? Porque eu mencionei (e ainda vou mencionar), em várias postagens aqui do meu blogger a palavra DESEJO, mas quando falo de DESEJO, eu não estou falando do DESEJO que remete ao ato sexual em si que é uma interpretação popular do senso comum, naturalmente. Mas falo do desejo QUE FAZ O SUJEITO BUSCAR TENTANDO "TAMPONAR" A FALTA. Tudo isso ao nível do inconsciente. Porque o sujeito busca e nem se sabe o que busca. POIS QUE FIQUE CLARO ENTÃO DE QUE TIPO DE DESEJO ESTOU FALANDO.


Lacan no seminário 11 fala sobre: NECESSIDADE, PULSÃO, DESEJO E FALTA.
Caracterizando e descaracterizando o significado de cada coisa, em psicanálise. Resumindo, é impossível entender O QUE É O DESEJO A PARTIR DA FALTA sem entender o que é a necessidade, o que é a pulsão e o que é a castração.
Resumindo mais ainda: LACAN fala a princípio da necessidade física, a criança quando nasce mostra isso através de seu comportamento de maneira muito clara. Ela é um corpo tomado de sensações. É um ser totalmente INSTINTUAL, não existe ainda uma significação das coisas, tudo é instinto, por exemplo: Se a criança sentir fome, que é uma necessidade física, ela vai chorar, e gritar para ser alimentada pela mãe, que é o outro da relação, e ela sabe que além do leite, vai ter a presença desta mãe.
No entanto, vai existir um momento nesta relação MÃE-BEBÊ, que a mãe não vai atender ao chamado da criança que chora porque quer mamar, ou porque quer a presença da mãe, por algum motivo a mãe se fará AUSENTE, a criança vai chorar e a mãe não vai poder estar ali presente. A mãe então FALA (significante do outro): "Agora mamãe não pode, você vai ter que esperar." ou então "Agora mamãe não pode, vai com o papai..." (vovó, vovo, titio, titia... enfim.). "O signicante do outro barra a necessidade e produz a pulsão que é a consequência da articulação da linguagem da demanda do outro" RICHARD FELDSTEIN (ORG.) 1997.
Na separação MÃE-BEBÊ, de alguma maneira a FALTA começa a se instalar, a criança percebe que a mãe não pode estar ali o tempo todo e que PARA ALÉM DISSO, existem outras coisas que a mãe também DESEJA. BEM VINDO AO MOMENTO CASTRADOR! Você não vai ser o "falo" da mamãe, e isso configurou-se também porque a mamãe PERMITIU, não?

Pincelei alguns exemplos fictícios, porque cada caso é um caso. ISSO NÃO É GENERALIZADOR, tanto que existem pessoas que não possuem esta FALTA simbolizada. E então entramos em outra estrutura a qual não me autorizo a falar por enquanto.
A partir da FALTA o ser humano (a grande maioria) é movido pela pulsão inconsciente do desejo de buscar o "objeto perdido" que na verdade nunca será encontrado.

ENTENDIDO?
Isso é o que move o ser humano segundo a psicanálise. É o sujeito emaranhado em sua teia de confusão, em suas cadeias de GOZO (ver em psicanálise), cambaleando nos tramitês de seu sintoma que representa algo dele mesmo. Pois em seu momento CASTRADOR o sujeito Á SUA MANEIRA concebeu a castração e vive com isso para o resto da sua vida.
E quando alguma coisa NISSO TUDO, ou para além disso tudo não está de acordo, procura-se então uma análise. Para suportar esse real, para suportarmos a castração, porque a vida é realmente cheia de momentos onde vamos nos deparar com A FALTA e ás vezes é preciso entender: "O QUE ACONTECEU (no passado, sim) que me faz repetir algumas coisas que eu não quero mas que estão em mim?", "Porque faço isso ou aquilo?".

É, recordar, repetir e elaborar.

O DESEJO, A PULSÃO, O SUJEITO, O SINTOMA A CASTRAÇÃO.
Acho que é por aí o começo de tudo.


NA FOTO: Excelentíssimo LACAN.


Comentários

  1. [..num momento mais oportuno, quero comentar sobre tuas manifestações intelectuais nesse blog; mas um ponto aqui está explícito: sua inteligência. por isso parei por aqui... é sempre bom navegar na companhia de pessoas que têm convicção, e que sempre buscam - por que não? - "um pouco mais de esclarecimento"...

    forte abraço...]

    ResponderExcluir
  2. [é sempre bom encontrar pessoas que têm coragem para manifestar suas crenças,

    valores e opiniões, que, de uma forma ou de outra, claro, moldam o sentido de suas

    consciências e de sua própria existência...

    passei por aqui porque me senti atraído por algo mais interessante que a palavra -

    a essência da palavra; mesmo em minha profusa ignorância, gosto de temas

    relacionados a psicologia; logo, encontrei aqui, nesse espaço, uma leitura

    confortável, do ponto de vista do bom estilo como as ideias são apresentadas.

    parabéns.

    pretendo fazer algumas incursões nesse intrigante território, já que sempre

    precisamos de "um pouco mais de esclarecimento", não é?

    forte abraço, foi um prazer!]

    ResponderExcluir
  3. Querido Albuquerque.
    Obrigada pelos elogios, fico muito feliz por saber que por aqui encontrou algo que de certa forma te faz bem!
    Obrigada por estar aqui, fico muito feliz, gostei do seu blogger!!! interessantíssimo!!! só peço perdão pois estou sem tempo e não consegui comentar.
    Logo passo por ali com cautela e tempo de sentí-lo também!

    ABRAÇO!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas